sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Tropa de Elite saiu das telas e entrou em cena


A violência do Rio de Janeiro é vendida no mundo inteiro

“Abaixando a Máquina: Ética e dor no fotojornalismo carioca” é o título do
documentário brasileiro, dirigido por Guillermo Planel e Renato de Paula. A película possui 65 minutos de duração. O trabalho retrata a realidade dos profissionais que atuam como fotojornalistas e convivem com a dor, a violência diária do Rio de Janeiro, o registro das situações e a publicação do olhar sensível do fotógrafo para a população leitora.

O documentário conta com depoimentos fortes de fotojornalistas que arriscam a vida para buscar a imagem mais próxima da realidade, que consiga retratar os fatos, mostrar sentimentos e o contexto em que ela foi tirada. O fotojornalista traz o leitor para perto dos acontecimentos, por meio de imagens. O documentário também conta com cenas chocantes, em que os profissionais se deparam diariamente com a violência no Rio de Janeiro para registrá-la. No longa metragem, não me lembro de uma entrevista se quer de um fotógrafo sorrindo.

Esses profissionais acompanham operações policiais, ficam entre tiroteios, registram enterros, crianças e adultos armados, pessoas baleadas e ensanguentadas e quando chegam à noite em casa, precisam dormir e muitas vezes cuidar dos próprios filhos, socializar, sorrir. É o contraste de duas realidades. Durante o dia ficam entre a vida e a morte, durante à noite se aconchegam em casa, protegidos da violência e no conforto da família.

Um exemplo dessa realidade é a guerra que está acontecendo entre policiais e bandidos cariocas, que desde o fim de semana passado entraram em confronto. De um lado os policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) e do outro, incontáveis criminosos que estão atacando a população do Rio de Janeiro, em protesto às UPPs que vem se instalando na periferia do Rio. Bandidos foram presos, civis mortos, policiais feridos, balas perdidas, ônibus e carros incendiados.

O país está sabendo dos acontecimentos, em tempo real, por meio de imagens registradas pelos fotógrafos. Essas imagens passam a dor, o sofrimento, o desespero e a dimensão da guerra, porque os próprios fotógrafos estão no meio do contexto. Arriscando a vida. Enquanto as pessoas correm para se proteger, os fotógrafos entram em cena para cobrir o episódio. E assim trabalham diariamente. A realidade que o Estado está vivenciando lembra muito o filme Tropa de Elite, em que o Bope (Batalhão de Operações Especiais) tem o desafio de pacificar a cidade que é ocupada pelo crime. A UPP entrou em cena. Invadiu as favelas e inspirada ou não no filme, quer acabar com a criminalidade. E a mídia quer divulgar.

Onde fica a ética do veículo de comunicação que emprega esses jornalistas, e que antes de qualquer ideologia é uma empresa? A foto tem que ser rentável. O fotógrafo busca o olhar mais próximo da realidade. A empresa publica. Vende. Onde fica a ética desses jornalistas que levantam a máquina para fotografar o enterro de um bebê recém nascido e que no outro dia o pai dessa criança abre o jornal e se depara com a exposição? O enterro do próprio filho não foi respeitado. A dor da família, o silêncio e o luto são invadidos pela mídia que precisam vender a verdade, os acontecimentos e gerar lucro. Como pode existir ética onde existe dor? Ética respeita a dor.

Uma frase é citada no documentário e resume a essência de um jornalista ético. “O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter” (Cláudio Abramo, jornalista).

Clic: Marcos Tristão